How to Survive é um jogo de ação e sobrevivência lançado em 2013, desenvolvido pela Eko Software e publicado pela 505 Games. Situado em um mundo devastado por uma infestação zumbi, o título aposta em uma abordagem diferenciada ao misturar elementos clássicos do gênero com mecânicas inovadoras de crafting, gerenciamento de recursos e sobrevivência realista. Ao invés de seguir o caminho cinematográfico e altamente roteirizado de outros jogos de zumbi, como The Last of Us ou Resident Evil, How to Survive propõe uma experiência mais crua e mecânica, focada na sobrevivência prática do dia a dia, exigindo do jogador não apenas reflexos rápidos, mas planejamento, atenção ao ambiente e criatividade.

A história do jogo começa quando o protagonista, um dos três personagens jogáveis disponíveis, sobrevive a um naufrágio e acorda em uma das várias ilhas de um arquipélago desconhecido. Logo fica evidente que o lugar está tomado por mortos-vivos e que as chances de sobreviver por conta própria são mínimas. O jogador, então, se vê obrigado a explorar o território, encontrar recursos e improvisar armas e abrigo, enquanto aprende a lidar com os perigos naturais do ambiente tanto quanto com os zumbis. Não há uma trama densa ou cheia de reviravoltas, mas há uma narrativa funcional que guia o jogador por meio de missões simples, muitas vezes transmitidas por personagens secundários que também lutam para sobreviver.

Uma figura central na narrativa e que se tornou emblemática dentro da franquia é Kovac, um sobrevivente excêntrico que deixou uma série de manuais espalhados pelas ilhas com dicas de sobrevivência. Esses guias são apresentados em tom humorístico, com ilustrações e conselhos exageradamente didáticos, mas muito úteis. Kovac acaba funcionando como um mentor indireto, ao mesmo tempo em que confere personalidade ao universo do jogo. A presença dele e de outros personagens ajuda a dar um pano de fundo leve ao ambiente brutal, criando um equilíbrio entre o desespero da sobrevivência e um certo senso de humor negro.

A jogabilidade é um dos maiores pontos fortes de How to Survive. O sistema de crafting permite ao jogador combinar objetos encontrados para criar equipamentos variados, desde ferramentas básicas como facões e tochas até armas mais elaboradas como arcos, bestas e rifles improvisados. Esse sistema incentiva a exploração constante, já que os itens necessários estão espalhados pelas ilhas e nem sempre são fáceis de encontrar. Muitas vezes, o jogador precisa voltar a áreas previamente exploradas para acessar novos recursos ou concluir tarefas pendentes. A coleta se torna tão vital quanto o combate.

O combate, por sua vez, é direto e eficiente. Jogando em perspectiva isométrica, o jogador enfrenta hordas de zumbis com armas brancas ou de fogo, sempre levando em conta o desgaste dos equipamentos e a escassez de munição. Há inimigos variados, incluindo zumbis mais lentos e fracos, criaturas que correm rapidamente, e mutações mais poderosas que exigem estratégia. Enfrentar grupos grandes pode ser fatal se o jogador não tiver preparado bem seu inventário e seus recursos, o que reforça a importância da administração cuidadosa de tudo que se carrega.

Outro aspecto interessante é o sistema de necessidades fisiológicas. O personagem precisa comer, beber e dormir. Negligenciar essas necessidades resulta em penalidades de desempenho, como diminuição da energia, da precisão no combate e da resistência física. Isso introduz um elemento realista importante, que amplia a complexidade da sobrevivência e obriga o jogador a manter uma rotina de cuidados com o próprio corpo. A sensação de urgência constante contribui para a atmosfera tensa do jogo, lembrando que o perigo nem sempre vem de um inimigo visível.

As ilhas do jogo são ricamente detalhadas e variadas. Existem áreas tropicais com vegetação densa, regiões áridas, praias, cavernas e locais abandonados. Apesar de os gráficos não serem o ponto mais avançado tecnicamente, o estilo visual funciona bem dentro da proposta. O design das áreas incentiva a exploração, recompensando o jogador com itens, equipamentos e novas receitas de crafting. A alternância entre dia e noite adiciona um desafio adicional, pois durante a noite os inimigos ficam mais agressivos e difíceis de enxergar.

A trilha sonora do jogo é discreta, mas eficaz. Em muitos momentos, o silêncio domina o ambiente, permitindo que o som do vento, dos passos e dos zumbis próximos gere uma tensão natural. Quando a música aparece, é geralmente para acompanhar momentos de ação intensa ou mudanças de ambiente. Já os efeitos sonoros são mais marcantes e desempenham um papel importante para a imersão, ajudando o jogador a localizar inimigos fora do campo de visão ou a detectar armadilhas naturais.

Os personagens jogáveis — Kenji, Abby e Jack — possuem características e habilidades distintas. Isso afeta o estilo de jogo de cada jogador, pois alguns personagens são mais rápidos, outros mais fortes, e outros melhores em fabricar itens. A escolha do personagem também pode influenciar a forma como o jogador enfrenta o desafio geral, pois cada um deles se adapta melhor a determinadas situações. Esse sistema de progressão com habilidades desbloqueáveis adiciona um leve toque de RPG, dando mais profundidade à experiência.

Além da campanha solo, How to Survive oferece um modo cooperativo muito elogiado. Jogadores podem se unir localmente ou online para enfrentar as ameaças das ilhas juntos, o que torna o jogo mais dinâmico e divertido. A cooperação permite dividir tarefas — enquanto um jogador luta, o outro pode coletar recursos ou curar um aliado — e aumenta bastante a rejogabilidade. O jogo até permite uma progressão conjunta, o que significa que o avanço em dupla não é descartável ou desconectado do progresso individual.

A curva de dificuldade do jogo é bem equilibrada, começando com desafios relativamente simples e escalando para situações mais complexas e perigosas conforme o jogador se aprofunda nas ilhas. A introdução de novos inimigos, obstáculos naturais, limitações de recursos e objetivos específicos mantém o ritmo do jogo interessante por muitas horas. Ao mesmo tempo, o sistema de missões secundárias oferece conteúdo adicional e recompensas úteis para quem quiser explorar tudo.

Embora não seja perfeito, o jogo oferece uma experiência satisfatória para fãs do gênero. Algumas críticas recaem sobre a repetição de certos objetivos, a simplicidade de parte das animações e uma certa limitação técnica em relação aos gráficos. Ainda assim, essas falhas não comprometem de forma grave a diversão, especialmente para quem se interessa por sistemas de crafting e exploração.

A recepção crítica foi majoritariamente positiva, especialmente entre jogadores que buscavam uma alternativa mais prática e direta a jogos de zumbi mais cinematográficos. Muitos elogiaram o equilíbrio entre tensão e humor, a liberdade de criação e o tom mais leve, mas ainda assim desafiador, do jogo. O fato de o título não se levar tão a sério ajuda a estabelecer sua própria identidade dentro do gênero.

O sucesso de How to Survive levou ao lançamento de uma sequência: How to Survive 2, que expandiu e aprofundou praticamente todos os elementos da fórmula original. O segundo jogo introduziu a construção de bases, maior personalização de personagens, um sistema de progressão mais complexo e uma experiência multiplayer muito mais robusta. No entanto, muitos jogadores ainda consideram o primeiro título como o mais coeso e direto.

Mesmo mais de uma década após seu lançamento, How to Survive continua sendo uma recomendação sólida para quem deseja uma experiência de sobrevivência focada em mecânicas e estratégia. É o tipo de jogo que recompensa o jogador atento e persistente, que prefere explorar cada canto, testar combinações de itens e enfrentar o perigo de forma metódica, em vez de apenas correr e atirar.

A proposta de ensinar o jogador “como sobreviver” de fato se concretiza, pois ao longo da campanha o aprendizado prático se torna essencial. Morrer faz parte do processo, e o jogo não tem medo de punir erros. No entanto, ele também oferece ferramentas para o crescimento, e quando o jogador percebe que sobreviveu a uma noite inteira, com poucos recursos, apenas com base em sua própria estratégia, a sensação de recompensa é real e poderosa.

Por fim, How to Survive pode ser descrito como um jogo que não promete ser um blockbuster, mas que cumpre com excelência sua proposta. Ele é direto, inteligente e repleto de mecânicas bem pensadas. Um verdadeiro manual de sobrevivência em forma de jogo, que diverte, desafia e, acima de tudo, faz jus ao seu nome.