
DESCRIÇÃO:
Final Fantasy VII é um spin-off do aclamado universo de Final Fantasy VII, que tem como protagonista o misterioso Vincent Valentine. O título marca uma mudança significativa no estilo da série, deixando de lado o tradicional RPG de turno e adotando uma jogabilidade voltada para o tiro em terceira pessoa, com elementos de RPG. A Square Enix assumiu um risco ao propor essa mudança de gênero, que foi recebida com reações mistas tanto por fãs quanto por críticos. Ainda assim, o jogo ocupa um espaço peculiar dentro da mitologia expandida do mundo de Gaia, servindo como uma ponte entre os eventos do jogo original e as novas ameaças que surgem no universo pós-Meteor.
A narrativa de Dirge of Cerberus se passa três anos após os eventos de Final Fantasy VII, após a derrota de Sephiroth e a aparente salvação do planeta. A história começa com Vincent sendo envolvido em um conflito contra uma organização secreta chamada Deepground, um grupo de soldados de elite que sobreviveu nos subterrâneos de Midgar e agora busca provocar uma nova catástrofe. O jogo mergulha profundamente no passado de Vincent, revelando detalhes de sua transformação em um ser imortal, bem como seu envolvimento com Lucrecia Crescent e o misterioso Projeto Chaos. A trama se desenrola em um clima sombrio e introspectivo, com Vincent sendo constantemente confrontado por seus traumas e pela culpa que carrega.
Vincent Valentine é um dos personagens mais enigmáticos da franquia Final Fantasy. Ex-membro dos Turks e cobaia dos experimentos da Shinra, ele carrega um passado trágico e um poder imenso. Dirge of Cerberus é, em essência, uma jornada de redenção e autoconhecimento para ele. Ao longo do jogo, os jogadores testemunham seu dilema interno, dividido entre sua natureza humana e a monstruosidade que lhe foi imposta. Essa dualidade é refletida não apenas em sua transformação física – com suas mutações durante o combate – mas também em suas decisões e reações diante dos horrores que presencia.
Um dos pontos altos do jogo é a ambientação. Dirge of Cerberus oferece uma versão mais devastada e decadente do mundo que os fãs conheceram em Final Fantasy VII. Vilarejos em ruínas, instalações militares desertas e cidades mergulhadas no caos compõem os cenários explorados. A direção de arte reforça o clima de desesperança, com paletas de cores escuras e uma trilha sonora melancólica, composta por Masashi Hamauzu, que substitui a épica assinatura de Nobuo Uematsu. Essa mudança reflete o foco mais íntimo da narrativa, centrada em Vincent e sua luta contra o legado da Shinra.
No que diz respeito à jogabilidade, o título apresenta uma mistura de ação e RPG, com sistema de mira automática, upgrades de armas, magias e itens de suporte. O jogador pode personalizar as armas de Vincent, modificando seus componentes e adaptando-as ao seu estilo de combate. Ainda assim, a jogabilidade foi frequentemente criticada por ser limitada e repetitiva, com IA inimiga pouco desenvolvida e controles que, para muitos, pareciam travados. Apesar disso, para os fãs de longa data da série, a ambientação e o enredo foram suficientes para sustentar o interesse durante a campanha.
A Deepground, organização antagonista do jogo, é composta por super-soldados que participaram de experimentos secretos durante o auge da Shinra. Liderados por Weiss, o Imaculado, eles representam uma ameaça quase mitológica. Suas motivações envolvem libertar Omega, uma entidade que simboliza o fim e o renascimento da vida planetária. Essa ideia de um ciclo de morte e renascimento é recorrente em Final Fantasy VII e aqui é revisitada sob uma nova ótica, agora ligada ao conceito dos “Weapons” e ao destino planetário.
Além de Weiss, outros membros da Deepground, como Nero, Rosso e Azul, funcionam como chefes ao longo do jogo, cada um com suas peculiaridades e poderes sobrenaturais. O design desses personagens carrega uma estética gótica e exagerada, com longos casacos, olhos brilhantes e uma presença ameaçadora. Nero, em especial, desempenha um papel importante na história, tendo uma conexão simbiótica com Weiss e sendo envolvido em experimentos ligados à escuridão absoluta. Esses vilões, embora caricatos em certos aspectos, oferecem combates memoráveis e acrescentam tensão à jornada de Vincent.
O jogo também conta com o retorno de personagens queridos da franquia, como Reeve Tuesti, que agora lidera a WRO (World Regenesis Organization), uma entidade criada para reconstruir o mundo após a queda da Shinra. Cid, Yuffie e outros antigos aliados aparecem em participações menores, reforçando o elo entre o spin-off e o jogo original. Ainda assim, Dirge of Cerberus mantém o foco quase exclusivo em Vincent, utilizando os coadjuvantes para complementar a narrativa sem desviá-la de sua direção central.
Do ponto de vista técnico, Dirge of Cerberus impressionava com seus gráficos para a época. As cutscenes em CGI, em especial, eram extremamente detalhadas e serviam como recompensa visual ao progresso do jogador. A Square Enix, conhecida por sua expertise em animações, entregou cenas impactantes, como o surgimento de Omega ou os confrontos finais de Vincent. Mesmo as cenas em tempo real mostravam cuidado com iluminação, expressões faciais e efeitos de partículas, contribuindo para a imersão no mundo devastado do jogo.
A trilha sonora de Dirge of Cerberus merece destaque especial. Composta em grande parte por Masashi Hamauzu, ela adota um tom mais sombrio e emocional, com uso de piano, cordas e batidas industriais. A música tema “Redemption”, cantada por Gackt, também foi usada na campanha promocional do jogo e reflete o tom pessoal e dramático da narrativa. O envolvimento do próprio Gackt como personagem no jogo (G) causou surpresa, mas agradou parte do público japonês, que via no artista uma figura compatível com a estética da obra.
Ao longo de sua campanha, o jogo equilibra tiroteios intensos com momentos de exploração e exposição narrativa. Diálogos longos e monólogos internos de Vincent contribuem para aprofundar sua psique e revelar suas motivações. O ritmo, no entanto, é irregular. Alguns capítulos são repletos de ação, enquanto outros se arrastam com caminhadas por áreas pouco interativas e trechos excessivamente expositivos. Isso causou frustração entre jogadores que buscavam uma experiência de ação mais fluida.
A recepção crítica de Dirge of Cerberus foi morna. Muitos elogiaram a tentativa da Square Enix de inovar, mas sentiram que o jogo não atingiu todo seu potencial. A jogabilidade foi frequentemente apontada como o ponto mais fraco, enquanto a história e os gráficos foram mais bem avaliados. Para alguns, o jogo parecia mais uma visual novel disfarçada de shooter, devido ao foco narrativo intenso e ao ritmo por vezes lento. Ainda assim, a obra conquistou um nicho de fãs que valorizam seu lugar único dentro da Compilation of Final Fantasy VII.
No Japão, o jogo teve mais sucesso, inclusive contando com uma versão online multiplayer que nunca foi lançada no Ocidente. Essa versão permitia aos jogadores se aliarem à WRO ou à Deepground em batalhas online, algo bastante inovador para a época. Infelizmente, o modo foi encerrado pouco tempo depois, e muito de seu conteúdo permanece inacessível para o público ocidental, sendo conhecido apenas por meio de arquivos de fãs e vídeos preservados.
Em termos temáticos, Dirge of Cerberus explora profundamente o conceito de identidade, arrependimento e sacrifício. Vincent é uma figura marcada pela dor e pela perda, e sua jornada é tanto física quanto emocional. Ao enfrentar seus próprios demônios e desafiar os horrores da Deepground, ele se redefine não como um monstro, mas como alguém disposto a proteger aquilo que ainda resta do mundo. O jogo funciona, portanto, como uma espécie de reconciliação entre o passado sombrio de Vincent e um futuro possível.
O final do jogo deixa algumas questões em aberto, incluindo o destino de certos personagens e a real influência de Omega no ecossistema planetário. Em termos de continuidade, a obra conecta-se ao universo expandido, mas nunca chegou a ganhar uma sequência direta, o que deixou muitos fãs frustrados. Ainda assim, referências a Vincent e à Deepground apareceram posteriormente em outros materiais do universo Final Fantasy VII, como Crisis Core e Ever Crisis, sugerindo que sua relevância foi reconhecida, mesmo que parcialmente.
É importante lembrar que Dirge of Cerberus surgiu durante uma época em que a Square Enix estava expandindo agressivamente o universo de Final Fantasy VII, criando a chamada “Compilation”, que inclui Advent Children, Before Crisis e Crisis Core. Dentro dessa coletânea, o jogo de Vincent foi a tentativa mais ousada de mudar completamente o gênero, o que, embora corajoso, acabou limitando seu alcance e deixando-o como um dos títulos mais divisivos da saga.
Apesar de suas falhas, Dirge of Cerberus permanece como uma peça única e intrigante do legado Final Fantasy. Sua atmosfera sombria, seu protagonista trágico e sua ambição narrativa ainda são lembrados com carinho por fãs que apreciam histórias mais densas e introspectivas. O jogo ofereceu uma perspectiva rara e mais adulta do universo de Gaia, com reflexões sobre culpa, redenção e sobrevivência num mundo pós-apocalíptico.
Com o renascimento da franquia por meio dos remakes modernos, muitos se perguntam se Dirge of Cerberus será reimaginado em alguma forma futura. Dado o enfoque atual na recontagem dos eventos de Final Fantasy VII, é possível que Vincent e os elementos de sua história sejam integrados de maneira mais orgânica ao novo cânone. Por ora, Dirge of Cerberus continua sendo uma obra curiosa, experimental e cheia de personalidade, marcada por seus acertos e tropeços.
No fim, o jogo é um lembrete de que até mesmo os heróis mais silenciosos carregam batalhas internas gigantescas. Vincent Valentine, com seu passado sombrio, sua busca por redenção e sua luta contra o destino imposto pela ciência, representa uma figura trágica, mas profundamente humana. Em um mundo onde a luta entre o bem e o mal é muitas vezes literal, Dirge of Cerberus escolhe explorar os tons de cinza — e isso, por si só, o torna memorável.
INFORMAÇÕES:
Titulo do jogo: Dirge of Cerberus: Final Fantasy
Idioma: Inglês
Gênero: RPG
Tamanho: 3.78 GB
Plataforma: Playstation 3
Formato: PKG