A única pergunta é: quanto barulho ele está disposto a fazer para chamar a atenção? A história, pelo menos, dá um bom indício. Seu personagem (uma escolha entre quatro heróis de especialidades distintas) escapa por um triz de uma emboscada que, por um acaso do destino (e necessidades de script), deixa um escasso número de sobreviventes. Estes improváveis paladinos tem como missão reerguer uma antiga ordem de legionários, derrotar uma bruxa que, sozinha, fora capaz de colocar de joelhos toda uma dinastia e trazer paz ao reino de Ehb. 

Apesar do energético primeiro ato, a história logo dilui em clichês do gênero (sabe como é: emboscadas a serem desarmadas, donzelas a serem resgatadas, conflitos étnicos a serem pacificados), e é uma feliz coincidência que o próprio reino de Ehb jamais sucumba facilmente às vontades da narrativa árida do jogo.  

Em uma das primeiras missões alternativas do game, você deve ajudar um pescador a livrar seu lugar favorito de pesca da presença de uma misteriosa criatura mística que, no fim das contas, é um lagartão super desenvolvido sem coragem de sequer caçar sozinho. 

Vá até Stonebridge e você pode descobrir um guarda autômato que confessa que, apesar de ninguém dizer nada abertamente, a cidade sofre de uma infestação de gatos domésticos ferais. Um arco de missões inteiras sugerem passar horas resolvendo casos banais do excêntrico povo local para ajudar um tribunal de duendes.

No fim das contas, ambiente toma lugar da narrativa, mas é uma pena que é apenas o charme incidental, escondido nos becos sem saída do jogo, que compõe a única razão emocional para se prosseguir pelo clima um tanto quanto repetitivo de Dungeon Siege III. 

O que não é dizer que a jogabilidade do jogo não valha sua dose de louros. A Obsidian conseguiu aproximar a fórmula dos PCs a um formato digerível para consoles, e o fez de maneira tão organizada que é até fácil esquecer porque há tanto abismo entre os dois públicos. Como já dizemos, o jogador pode escolher entre quatro personagens, cada um representando papéis tradicionais de RPGs (temos o guerreiro, o mago, a mestra de armas de fogo e, curiosamente, uma mutante de chamas que mescla poderosas habilidades a curta e média distância), e tem acesso a golpes normais e magias. 

Os ataques especiais são deixados em teclas de atalho, e é aqui que se encontra a sofisticação mecânica do jogo. Cada magia é mapeada a um dos quatro botões principais do controle, três de cada vez. Se você quiser acesso ao resto, é preciso navegar entre duas posições de combate distintas (uma postura de defesa e uma especial para cada personagem), tudo ao toque de um botão.

Aqui também se esconde a versatilidade de cada classe: Reinhart, o mago da equipe, tem, como é de se esperar, potentes ataques a distância em sua posição padrão, mas se torna um poderoso atacante de média distância com efeitos de área em sua postura secundária. Anjali, a mutante de fogo, usa sua lança para aplicar golpes em proximidade que afetam múltiplos inimigos de uma só vez, mas, transformada, é capaz de soltar bolas de fogo e armadilhas que não apenas incineram seus adversários como também curam seus parceiros. 

Experimentar com as diversas posições de combate e as diversas combinações entre personagens é a grande magia do jogo, e o que faz o excelente modo cooperativo (online e local) se assemelhar a uma partida mais evoluída do clássico Gauntlet. Mas vale salientar que o sistema de evolução de personagens e o inventário do jogo ainda podem se provar pouco atraentes para quem quiser apenas passar um tempo matando monstros.