Duke Nukem Forever é um jogo que, antes mesmo de ser lançado, já carregava sobre si um peso histórico imenso. Desenvolvido ao longo de mais de uma década, ele se transformou em um dos projetos mais comentados do mundo dos games devido ao seu desenvolvimento conturbado, mudanças de engine e constantes adiamentos. Quando finalmente chegou ao mercado, trouxe consigo uma mistura de nostalgia, humor ácido e ação exagerada que remete diretamente à identidade clássica da franquia Duke Nukem, com seu protagonista icônico e sua irreverência sem limites.

O jogo coloca o jogador novamente no papel de Duke Nukem, o herói musculoso, sarcástico e absurdamente confiante, que se tornou um símbolo cultural dos anos 90. Com sua atitude arrogante, frases de efeito e personalidade exagerada, Duke volta a enfrentar uma nova ameaça alienígena que retorna à Terra depois de anos de aparente paz. A premissa é simples: os alienígenas querem dominar o planeta e, como sempre, Duke é o único capaz de impedir que isso aconteça, usando armas, força bruta e sua arrogância única.

A narrativa começa mostrando Duke vivendo como uma celebridade mundial após salvar a Terra em aventuras anteriores. O jogo faz questão de reforçar o quanto o personagem se transformou em um ícone pop, com mansão luxuosa, jogos, autógrafos e uma legião de fãs. No entanto, quando a invasão alienígena recomeça, Duke precisa abandonar o conforto e voltar para a linha de frente, armado e pronto para enfrentar criaturas gigantescas, inimigos deformados e hordas intermináveis de soldados alienígenas.

O humor é um dos principais elementos do jogo, e Duke Nukem Forever abraça completamente seu estilo politicamente incorreto, com piadas ácidas, referências culturais, provocações exageradas e situações absurdas que fariam poucos jogos modernos ousarem repetir. Esse humor característico, embora controverso para algumas pessoas, é parte fundamental do DNA do personagem e ajuda a criar uma atmosfera única e autêntica que remete aos clássicos de tiro da década de 90.

Em termos de jogabilidade, o jogo adota um estilo de tiro em primeira pessoa direto e frenético, com ênfase em arenas cheias de inimigos e confrontos constantes. O jogador tem acesso a uma grande variedade de armas, desde pistolas e espingardas até o famoso Shrink Ray, que encolhe inimigos, e o Devastator, uma arma pesada capaz de destruir alvos enormes com facilidade. Cada arma tem personalidade própria, efeitos visuais marcantes e utilidade em diferentes momentos da campanha.

O jogo também incorpora momentos de exploração, quebra-cabeças simples, seções com veículos e sequências em que Duke interage com o mundo de maneiras exageradas e cômicas. Essas variações ajudam a quebrar a repetição e trazem uma sensação divertida de imprevisibilidade. Às vezes, o jogador se vê dirigindo um carro miniaturizado; em outras, precisa navegar por trechos inundados ou escapar de máquinas gigantescas.

Os inimigos são variados e incluem desde os clássicos Pork Troopers até monstros gigantescos inspirados nos jogos anteriores. Cada tipo de criatura exige abordagens distintas, seja usando armas específicas ou aproveitando elementos do cenário. A sensação de nostalgia é evidente, pois muitos desses inimigos retornam repaginados, mas sem perder suas características originais, fazendo um equilíbrio entre o novo e o retrô.

Graficamente, o jogo não esconde suas raízes antigas, já que o longo período de desenvolvimento deixou marcas claras na parte visual. Embora não alcance o nível dos grandes lançamentos contemporâneos de sua época, Duke Nukem Forever compensa com estilo, exagero e humor visual. Os ambientes variam bastante, com laboratórios, cassinos, desertos e bases militares, todos com uma estética que mistura o bizarro com o futurista.

A campanha oferece uma boa quantidade de horas e é recheada de diálogos sarcásticos, confrontos intensos e momentos de pura loucura. Duke reage de maneira sempre exagerada, zombando dos alienígenas, dos soldados, de si mesmo e até de outros jogos de tiro modernos. Essa metalinguagem, que brinca com tendências da indústria, proporciona momentos de crítica humorística que só um personagem como Duke Nukem poderia sustentar.

O jogo explora bastante a personalidade do protagonista, reforçando seu ego inflado, sua confiança inabalável e seu estilo heroico ultrapassado, mas carismático. Duke sempre tem uma frase pronta, geralmente ofensiva ou provocativa, que ressalta o contraste entre sua forma antiquada de ver o mundo e o cenário mais moderno ao seu redor. Isso torna a narrativa sempre divertida, mesmo quando os eventos são simples.

Há também um sistema baseado no ego, que funciona como a “barra de vida” do protagonista. Em vez de kits de cura tradicionais, Duke aumenta seu ego ao realizar ações que reforçam sua autoestima, como vencer batalhas, interagir com objetos ou completar desafios específicos. Esse sistema combina perfeitamente com o humor do jogo e cria momentos engraçados durante o combate.

Algumas fases apresentam mudanças significativas na jogabilidade, como sequências de plataforma e momentos em escala reduzida, onde Duke fica do tamanho de um brinquedo e precisa enfrentar o ambiente sob nova perspectiva. Esses trechos são criativos e adicionam variedade, mostrando que o jogo tenta evitar uma repetição excessiva de tiroteios lineares.

O componente de veículos, embora não seja tão profundo, é divertido e bem integrado. O jogador pode dirigir caminhões, carros, veículos maiores e até equipamentos improvisados, sempre com a sensação exagerada típica do universo de Duke Nukem. Esses trechos ajudam a manter o ritmo da campanha dinâmico e inesperado.

O jogo também conta com um modo multiplayer, trazendo combates competitivos com mapas e modos inspirados na campanha. A jogabilidade rápida e caótica combina bem com esse formato, embora o foco principal da experiência esteja claramente na aventura solo. Ainda assim, o multiplayer adiciona mais conteúdo e valor para quem gosta de ação frenética.

A trilha sonora é composta por músicas intensas que complementam bem o clima de exagero e ação constante. Guitarras, batidas fortes e efeitos sonoros caricatos reforçam a personalidade do jogo e destacam momentos importantes durante as batalhas. A dublagem de Duke continua impecável, cheia de atitude e frases icônicas.

A estrutura dos capítulos é variada, permitindo explorar cenários diferentes e enfrentar chefes gigantescos. Esses chefes geralmente exigem estratégias específicas e oferecem desafios interessantes, deixando momentos memoráveis durante a progressão da história. Alguns confrontos são verdadeiros espetáculos de exagero e humor.

Mesmo com suas imperfeições técnicas, o jogo exala personalidade. Tudo nele tem identidade própria, desde a forma como Duke lida com aliados e inimigos até as interações mais simples com objetos do cenário. Essa identidade forte é a razão pela qual o jogo atrai tantos fãs, apesar das críticas que recebeu no lançamento.

Em certos momentos, o jogo faz homenagens aos shooters clássicos, com ambientes labirínticos, segredos escondidos e lutas em arenas. Esses momentos são um presente para fãs antigos do gênero, especialmente aqueles que cresceram jogando shooters da década de 90. Essa combinação de estilos faz o jogo parecer, ao mesmo tempo, nostálgico e ousado.

No fim, Duke Nukem Forever é uma obra única, construída sobre exagero, humor e ação, com uma estética que jamais tenta ser séria. Apesar de não ser perfeito tecnicamente, ele entrega uma experiência divertida, irreverente e cheia de personalidade, que homenageia tanto a franquia quanto o espírito dos shooters clássicos.

O jogo permanece como um marco na indústria não apenas por seu conteúdo, mas por sua história de desenvolvimento, por sua ousadia e por ter resgatado um dos personagens mais icônicos dos videogames. É uma aventura cheia de energia, debochada e explosiva, perfeita para quem busca diversão sem limites e sente saudade dos tempos em que os jogos eram absurdos por natureza.