Lançado em 2009 pela Radical Entertainment e publicado pela Activision, Prototype é um jogo de ação em terceira pessoa que se destacou por sua abordagem brutal, caótica e visceral da jogabilidade em mundo aberto. Situado em uma versão fictícia de Manhattan, o jogo apresenta um cenário sombrio e violento, dominado por uma epidemia misteriosa e pelo caos urbano. O protagonista, Alex Mercer, acorda em um necrotério sem memórias, e descobre que está dotado de poderes sobre-humanos e habilidades de mutação corporal únicas.

A trama gira em torno da busca de Alex por respostas sobre sua identidade, a origem de seus poderes e o que está por trás da infecção que assola Nova York. A história se desenrola em meio a uma guerra silenciosa entre três forças principais: os militares da Blackwatch, os infectados pelo vírus e o próprio Alex, que muitas vezes se coloca como uma força imparável e isolada. O enredo mistura ficção científica, terror biológico e elementos de conspiração governamental, mantendo um tom sombrio do início ao fim.

A mecânica de jogo de Prototype é um de seus maiores destaques. Alex possui a capacidade de consumir pessoas para absorver suas memórias, habilidades e aparência, o que não apenas serve como ferramenta narrativa, mas também como mecânica fundamental para a progressão do jogador. Essa habilidade de “consumir” e se transformar permite inúmeras possibilidades táticas durante o combate ou infiltrações.

Além da camuflagem, Alex possui uma variedade de mutações físicas que podem ser ativadas a qualquer momento. Entre elas, estão garras afiadas, um braço em forma de lâmina, punhos gigantescos, escudos biológicos e até mesmo tentáculos. Cada transformação tem suas próprias vantagens e é eficaz contra diferentes tipos de inimigos, o que obriga o jogador a variar suas estratégias de combate.

O mundo aberto de Prototype oferece uma versão caótica e opressiva de Manhattan, com áreas controladas por infectados e outras ocupadas por militares. Essa divisão cria um ambiente dinâmico e imprevisível, onde o jogador pode enfrentar combates intensos a qualquer momento. Além disso, a liberdade de movimentação é outro elemento essencial, com Alex capaz de escalar prédios, correr pelas paredes e planar por longas distâncias, o que torna a navegação pela cidade extremamente fluida e prazerosa.

Do ponto de vista visual, Prototype pode não ter sido o jogo mais avançado graficamente de sua época, mas seu estilo artístico e atmosfera sombria contribuíram para uma identidade marcante. O design dos infectados e das mutações de Alex é grotesco e criativo, reforçando o clima de horror corporal e transformação.

A trilha sonora e o design de som também merecem destaque. A música do jogo mantém uma tensão constante, e os efeitos sonoros das mutações e combates são impactantes, transmitindo a violência extrema das batalhas. O rugido das criaturas, o som das transformações e os gritos de desespero criam uma paisagem sonora inquietante.

O enredo é apresentado de forma não linear, com fragmentos de memória adquiridos por meio do consumo de certos personagens. Essa abordagem incentiva a exploração e adiciona profundidade à narrativa, revelando lentamente as conexões entre Alex, a corporação Gentek, a Blackwatch e o vírus conhecido como “Blacklight”.

Um dos temas centrais de Prototype é a perda de identidade. Alex Mercer é, desde o início, uma figura ambígua. Ele é ao mesmo tempo vítima e monstro, salvador e destruidor. A dualidade entre sua busca por humanidade e a brutalidade de seus atos levanta questões sobre moralidade e livre-arbítrio em meio ao caos.

Outro ponto importante é a crítica velada ao poder corporativo e militar. A Gentek, responsável pelo desenvolvimento do vírus, representa o lado sombrio da ciência sem ética, enquanto a Blackwatch age como um braço militar descontrolado, disposto a tudo para conter o surto, inclusive massacres de civis inocentes. Alex se torna um catalisador para confrontar essas instituições.

A jogabilidade é extremamente violenta, com combates intensos e destruição em larga escala. Alex pode destruir tanques, helicópteros e multidões inteiras com facilidade, o que faz o jogador se sentir poderoso, mas ao mesmo tempo levanta dúvidas sobre o verdadeiro papel do protagonista na história: ele é um herói ou uma arma fora de controle?

Apesar de seu sucesso, Prototype recebeu críticas por alguns aspectos repetitivos, como missões secundárias pouco variadas e uma história que, embora intrigante, às vezes se perde em sua complexidade e falta de foco emocional. No entanto, esses pontos foram amplamente superados pela diversão proporcionada pela liberdade de ação e pelas mecânicas inovadoras.

O jogo também inspirou uma sequência direta, Prototype 2, lançada em 2012, que tentou expandir o universo e introduzir um novo protagonista, James Heller. Ainda que tenha evoluído graficamente e em termos de refinamento mecânico, muitos fãs consideram o primeiro jogo mais impactante por sua abordagem mais crua e pela originalidade de Alex como personagem.

Prototype acabou se tornando um título cult entre fãs de jogos de ação, graças à sua violência estilizada, liberdade de movimento e narrativa densa. É lembrado como uma experiência única que, embora imperfeita, entregou algo raro: a sensação de controle absoluto sobre uma força biológica destrutiva em meio a uma cidade à beira do colapso.

Mesmo mais de uma década após seu lançamento, o jogo continua a ser discutido em fóruns e vídeos de retrospectiva, com pedidos frequentes por uma remasterização ou continuação moderna. Sua combinação de jogabilidade frenética, ambientação sombria e protagonista moralmente ambíguo ainda o torna um exemplo notável do que a geração Xbox 360/PS3 ofereceu de mais ousado.

Por fim, Prototype é uma obra que mistura caos, poder e desespero em uma fórmula cativante. Ao colocar o jogador no controle de um ser quase divino em uma cidade em ruínas, o jogo propõe uma pergunta desconfortável: o que você faria se não houvesse limites para sua força? A resposta, ao longo de suas missões e confrontos brutais, é deixada ao jogador — e raramente é simples ou heroica.